Resumos



Conferência de abertura

A formação do pesquisador em Literatura: proposição de um itinerário
Roberto Acízelo de Souza (Universidade do Estado do Rio de Janeiro / CNPq / FAPERJ)
Para a formação do especialista em estudos literários sugere-se um itinerário que comporte a aquisição de algumas competências fundamentais: conhecimento de teoria da literatura; domínio da história literária de pelo menos uma nação ou comunidade linguística; estudo das bases conceituais de uma ciência social (história, sociologia, psicanálise ou antropologia); estudos sistemáticos de filosofia; conhecimentos de metodologia da pesquisa; proficiência na expressão escrita; bom conhecimento geral das letras (línguas, linguística, filologia, teoria da literatura).



Mesa 01. De Minas a São Paulo: Drummond, Guimarães, Mário de Andrade e Monteiro Lobato


Eloisa da Rosa Oliveira
Do burro de carga ao sedex: memórias e trajetórias de leitura
As modificações técnicas do final do século XVIII, que se expandiram ao longo dos séculos seguintes, mudaram o rumo das relações culturais estabelecidas entre Europa e Brasil. Tais transformações não circularam apenas em grandes centros. Elas alcançaram Itabira, por exemplo, interior de Minas Gerais, Brasil, mais precisamente na primeira década do século XX. Foi pelo trem de ferro e depois no lombo de um burro de carga, que fino caixote chegou até às mãos de um menino, menino leitor, era Carlos Drummond de Andrade. No caixote estava a Biblioteca Internacional de Obras Célebres, com 24 volumes encadernados em percalina verde. O então leitor da revista Tico-Tico e das aventuras de Robinson Crusoé, agora iria se aventurar por leituras mais desafiadoras e complexas. É precocemente que Drummond circula entusiasmado por textos de Defoe, Flaubert, Victor Hugo, entre outros clássicos. O que de certa forma explica sua entrada para a academia, em um dos Grêmios de Belas Letras da cidade, aos treze anos de idade. A trajetória do poeta é inegavelmente marcada por essa intervenção de leituras em sua infância. Este projeto, que corresponde à minha pesquisa de mestrado em andamento, propõe uma análise da trilogia Boitempo, obra memorialista em que o poeta reconta em versos sua infância em Itabira. O estudo é centrado em perceber o menino leitor dentro da obra de Drummond. Nesse sentido, a trajetória do autor revela-se como importante objeto de análise para entendermos e acompanharmos os processos de leitura que se deram no início do século XX. O estudo direciona olhar mais especificamente para a maneira como essa circulação e interação cultural se deu no Brasil e de que modo a prática de leitura na infância influenciou a construção da identidade de Drummond enquanto escritor.


Larissa Costa da Mata
A leitura de O ramo de ouro por Mário de Andrade: Perséfone, o nó, o folclore
Este trabalho pretende reconstruir o sentido do “verde”, vinculado ao mito de Perséfone e ao de Dioniso nas Danças dramáticas do Brasil, obra de Mário de Andrade publicada postumamente, em 1959. A ideia é cotejar o aparecimento da expressão nas letras de algumas canções do “boi” e a justificativa metodológica oferecida pelo autor na introdução desse livro, bem como as marcas deixadas pela leitura de Andrade no volume de O ramo de ouro de Sir James Frazer localizado na sua biblioteca (tradução para o francês por Lily Frazer, publicada em 1922). Perséfone, que contemporaneamente a Mário de Andrade percorreu o imaginário latino-americano no espetáculo Perséphone – com música de Igor Stravinsky e poema de André Gide, apresentado em Buenos Aires em 1936 – permite interpretar a primavera ora como violência e imprevisibilidade, ora como retornos periódicos; ora como a imagem unificadora de um povo (o nó, o chefe e a religião, que garantem os laços comunitários, a forma e a identidade), ora como a sobrevivência da negatividade, como a recusa da historicidade e da homogeneidade da fundação.


Juliana Cristina Garcia
Os caipiras de Monteiro Lobato
Monteiro Lobato foi uma pessoa multifacetária. Atuou como escritor, como editor, produtor de ferro e extrator de petróleo. Até trabalhos sanitaristas foram exercidos por ele. Enquanto fazendeiro, Monteiro Lobato tinha seus dias cheios de compromissos administrativos e se esforçava para manter a ordem na Buquira. Foi a intensa convivência com os caipiras de sua fazenda que o levou a escrever o artigo “Velha praga” e o conto “Urupês”, ambos publicados no jornal O Estado de São Paulo, em 1914. Tomando como partida essas duas obras, este trabalho tem como objetivo apresentar como era definida uma de suas mais famosas criações: o caipira Jeca Tatu, representante de todo o atraso do povo da roça.  Procuraremos mostrar, a partir de diferentes protagonistas caipiras de contos publicados em Urupês e em Cidades mortas e de artigos publicados nos anos subsequentes às publicações iniciais do contista, que o Jeca Tatu possuía tantas faces quanto seu criador. Para isso, observaremos as mudanças que ocorrem no discurso literário de Monteiro Lobato ao se referir ao caipira entre os anos de 1914 e 1947, ano do surgimento do personagem Zé Brasil.


Bairon Oswaldo Vélez Escallón
Guimarães Rosa: semblantes do êxtase
A obra de João Guimarães Rosa tem sido tradicionalmente lida entre aquelas que melhor sintetizaram, representaram e universalizaram no século XX a realidade –ou a cultura- brasileira. Dessa maneira, tanto para a crítica como para a história literárias, Guimarães Rosa se conta entre aqueles autores que –antes do boom- reativaram os assuntos, linguagens, personagens e espaços regionais ou interiores da América Latina, levando-os às formas literárias universais. Alguns desses autores foram denominados “provincianos” (Arguedas), superregionalistas” (Candido) ou “transculturadores” (Rama). Esse conjunto de leituras permite hoje múltiplos questionamentos: é possível se representar uma dada realidade? Essa realidade estaria indefectívelmente atrelada a uma determinada chave de interpretação nacional ou identitária? O que a universalidade, pretensamente alcançada por esses autores, tem de pressupostos logocêntricos, domesticadores ou de normalização cultural? Que tipo de concepção da história opera em leituras que colocam esse conjunto de autores numa certa “maioridade” respeito de alguns dos seus precursores? Esta comunicação pretende mostrar como, para além de uma representação pura do identitário, há na obra de Rosa uma comoção muito profunda de todo que se associa corriqueiramente com esse conceito. A escritura rosiana confronta ou traduz o próprio em termos de “participação sem pertença”, ou seja, como um devir incessante em que o conjunto não se define como uma somatória de partes ou em que as partes não podem ser deduzidas da sua integração a um conjunto. Assim entendida, a identidade seria um construto incessante e sempre projetado ao seu esplendor e à sua ruína, uma escritura lançada a um jogo de diferimentos que abalaria toda legislação acerca do literário ou do valor. Em outras palavras, a escritura em foco operaria extaticamente, quer dizer, expondo a sua própria limitação e fazendo dela um limiar em direção ao mundo. Esses são os temas e problemas propostos para a comunicação.



Mesa 02. Cidade e Experiência Literária

Patricia Floriani Sachet
Cesário Verde e Jorge Luis Borges - Duas perspectivas distintas de cidade
A partir da noção de cidade, amparados no aporte teórico de autores como Bermann  e Willians e considerando a relação que há entre o sujeito e a sua polis, propomos uma travessia nos poemas de Cesário Verde, poeta  português, e nas três primeiras obras poéticas de Jorge Luis Borges, poeta argentino, com o intuito de apontar as divergências que podem ser percebidas através dos poemas da visão da cidade. O modo como a simbolização das transformações em direção ao moderno perpassam os poemas dos autores, nos mostrando que as cidades em questão, Lisboa e Buenos Aires, estão longe de serem as cidades perfeitas. A presença de dois olhares distintos em relação ao mesmo foco, a cidade, nos levou a pensar sobre o sentimento do sujeito em relação a sua cidade, seu sentimento de pertença a um espaço sempre mutável. Temos como contraponto a poética de Baudelaire e a prosa de Garret para pensar o “espírito português e argentino”, através da percepção da realidade da superfície citadina. 

Maria Leonor Scherer
Miradas al Sur:  A criação mitológica do bairro Sur na obra de Jorge Luis Borges
A pesquisa em torno da experiência urbana tem sido de grande relevância em várias áreas de investigação. Na literatura, ela aparece no estudo da representação da cidade nas obras de cada época, e para se estudar a representação da cidade na literatura um bom método talvez seja partir do que a compõe, como, por exemplo, seus bairros.  Assim, a pesquisa proposta constitui-se a partir de uma revisão de algumas teorias representativas relacionadas à experiência urbana, em especial à bairrial, tendo como objetivo central investigar como o arrabalde portenho se configura na obra de Jorge Luis Borges, e de maneira muito particular aquela região de Buenos Aires que ficou conhecida como “barrio Sur”. Levantamos algumas questões importantes para a pesquisa, a principal delas seria em que momento o autor começa a criar uma mitologia em torno do bairro Sur de Buenos Aires. Outra questão, por exemplo, seria qual a importância do bairro na obra de Borges? É sabido que a figura o bairro, mais especificamente o arrabal, aparece inúmeras vezes na obra do autor; o que nos propomos a analisar é de que maneira essa figura é retratada na obra poética.
Para o desenvolvimento da será feito um recorte temporal na obra de Borges, tendo sido escolhidos para a pesquisa os três primeiros livros do autor: o livro de poemas Fervor de Buenos Aires (1923), e dois livros de contos Luna de enfrente (1925) e Cuaderno San Martin (1929), todos da década de 1920.


Silviana Deluchi
A modernidade ditada pelo capitalismo em "Las Hortensias"
Nas linhas iniciais de “Las Hortensias”, de Felisberto Hernández, já se encontra uma alusão às fábricas e os seus ruídos, estas que são grandes símbolos do progresso e da sociedade moderna. “Las Hortensias” pode ser lido como uma crítica ao ideal capitalista, à sociedade dos bens de consumo, e como o progresso do capitalismo traz para a sociedade, dita moderna, a ruína em vários âmbitos. Nele o ser humano é visto como um boneco, exposto em vitrines em diversos contextos, manejado ao bel prazer do seu proprietário. Cada novo modelo de boneco, aperfeiçoado pelas novas técnicas, seduz, inunda os sentidos, anestesiando todo o aparato sensorial, e fazendo com que se deseje esse novo objeto. Desta mesma maneira, o personagem principal da narrativa é anestesiado por esse objeto “melhorado”, bem como o homem moderno é anestesiado pela infinidade de produtos que hoje lhe são oferecidos. Pode-se dizer que a indústria moderna anestesia o homem, com um falso desejo, uma falsa necessidade, onde se é induzido a consumir. Hernández termina seu texto com outra alusão às fábricas, enfatizando o poder que elas detêm sobre a sociedade moderna.  


Gilson Guzzo Cardoso
Experiência urbana e suburbana  nas tragédias cariocas de Nelson Rodrigues
Este trabalho tem como objetivo apresentar a pesquisa de doutorado que está sendo desenvolvida a partir da investigação das tensões da vida cotidiana do Rio de Janeiro, em especial no que diz respeito ao tradicional confronto entre a Zona Norte e a Zonal Sul. A pesquisa tem como recorte analítico as Tragédias Cariocas de Nelson Rodrigues e tem como ponto focal o conceito de experiência desenvolvido por Walter Benjamin. É em torno desse autor e desse conceito — um dos mais ricos e decisivos para o entendimento da vida moderna e contemporânea — que o projeto se organiza do ponto de vista teórico. Estruturalmente, a pesquisa está calcada em cinco pontos fundamentais. São eles: (1) reflexões sobre o teatro pós-dramático, (2) a vida cotidiana nas grandes cidades, (3) pensada a partir do conceito benjaminiano de experiência, (4) na obra dramatúrgica de Nelson Rodrigues, particularmente as suas chamadas Tragédias Cariocas e (5) a tensão Centro x periferia.



Mesa 03. Literatura e melancolia

Diego Cervelin
Viagens obscuras de Invenção de Orfeu
O livro “Invenção de Orfeu”, publicado por Jorge de Lima em 1952, apresenta uma vigem politrópica dividida em dez cantos que foi imaginada inicialmente como uma espécie de modernização da epopéia através de vivências cotidianas marcadas por imagens obscuras e carregadas de remissões a livros clássicos das mais diferentes épocas. O percurso poético oferecido pelo escritor alagoano tem sido analisado segundo uma preocupação que intenta definir a pertinência ou não do texto aos modelos formais traçados pela “épica” e pela “lírica”. De fato, o uso das imagens heróicas e líricas no texto não indica uma compreensão linear ou redutora do trabalho poético. Nota-se, nesse sentido, que os fluxos apresentados pelos versos do texto, para além da questão do gênero literário, também indicam uma dinâmica cultural relacionada de modo mais preciso às circunstâncias que permeiam a experiência que o homem pode fazer de si e do mundo através da linguagem, onde pode emergir inclusive a face reversiva da noção de presença. Assim, além de discutir a relação entre as formas, trata-se de possibilitar uma segunda linha de leitura, voltada especialmente para a consideração do campo de forças delineado pela emergência da capacidade imaginativa em Invenção de Orfeu. Tais questões, portanto, permitem discutir o texto limiano em suas relações com a "katábasis" órfica e a "noche oscura" de Juan de la Cruz, de modo a fazer emergir um pensamento acerca de uma experiência de linguagem pautada pela gagueira e pelo babelório, que, longe de indicarem uma noção depreciativa do trabalho poético, põem a estética em contato com uma ética infans - para usar um termo caro ao filósofo italiano Giorgio Agamben – onde só se esperava contemplação e eficácia.


Juan Manuel Terenzi
Rumo às ruínas afetivas: "Tan triste como ella" de Onetti
Em 1963 o escritor uruguaio Juan Carlos Onetti publicava o conto “Tan triste como ella”, considerado por muitos críticos uma história de amor extremamente triste. A leitura do conto impacta não apenas pela dureza narrativa, mas também pela beleza poética. Poderíamos resumi-lo como a frustrante união de um homem e uma mulher, do esforço inútil para continuarem juntos, acompanhados da presença fantasmal de uma terceira pessoa, de uma criança e de uma força cuja origem nossa curiosidade não apreende. A literatura de Onetti revela ao mesmo tempo em que conserva o seu segredo. Para tentar uma aproximação crítica leremos o conto de Onetti com Heidegger, observando seu conceito de tédio, e com Benjamin, observando seu conceito de melancolia.


Maiara Knihs
A crise de Cruz: a prática da melancolia na poesia de Cruz e Sousa
Os poema-ensaios de João de Cruz e Sousa reunidos no livro póstumo Evocações são exemplares de uma específica prática fantasmática, típica de fins do século XIX, a melancolia. Mostrar como a melancolia é a força propulsora da estética sousiana e como ela se vincula às imagens arrendadas naquela poesia é o propósito inicial deste trabalho. Para tanto, optou-se pela análise do poema “Iniciado”, poema que evidencia o movimento a um lugar fundamental para o estudo da poesia de Cruz e Sousa, o lugar do exilado. O “eu” do poema sai da paragem feliz do seio materno, marcadamente espacial, e  parte para o Desconhecido, exila-se. Esse Desconhecido, sinônimo de imersão na arte, mas também, sugestão do deslocamento de saída da ilha de  Nossa Senhora do Desterro para a capital Rio de Janeiro, é responsável por uma perda e pela irrupção de uma subjetividade trêmula, fantasmática, “do aspecto angustioso de um guilhotinado”. Sintomaticamente essa subjetividade sem cabeça, imagem do dilaceramento e da fragmentação é causada pela paixão estética. É a impossibilidade de retorno ao lugar original, familiar, que proporciona o estado melancólico; essa é uma perda irreparável. Desse modo, utilizar a categoria estética assim como pensou Baudelaire e teorizou Benjamin, vinculada ao choque das sensações, foi caminho pelo qual se armou uma leitura da poesia simbolista como moderna. Esta é uma poesia moderna no que tange à reivindicação da condição de  ex-ilio, esse fora da ilha que é sempre concomitante ao dentro, lugar do estranho (unheimilich), um lugar prioritariamente de crise. Esta é a crise do verso mallarmaica, que assim como a crise de Cruz e Sousa, não deixa de ser uma análise do momento histórico que, em última instância, aponta para uma crise de ideal, para uma crise social, sobretudo, para uma crise do sentido.


Gastón Cosentino
Arlt sob o signo de Saturno: melancolia e literatura
O presente trabalho procura mostrar alguns pontos relevantes da pesquisa desenvolvida até o momento, a respeito da constelação de sentidos que propõem diferentes teorizações em torno do conceito de melancolia e literatura. A obra do escritor argentino Roberto Arlt (1900-1942) oferece alguns paradoxos interesantes que se conectam com a esfera política, estética, filosófica, e inquietam de modo constante os protocolos de leitura tradicionais. Na busca da sustentação de uma metáfora crítica que opere como uma interfase capaz de dialogar com a poética arltiana, surgem os contornos de uma das figuras emblemáticas da melancolia: C(h)ronos e seus atributos. Exploraremos, apartir daí, a forte dimensão irónica dos textos arltianos, a distancia e a vertigem interior da escrita. A melancolia en tanto afeccão da razão (ratio) e da imaginação (inventio). A melancolia como corte produtivo. Uma introdução possivel aos melancólicos portenhos. Primeiro anel: Roberto Arlt.


Mesa 04: Literatura e música: Brasil

André Rocha Leite Haudenschild
Benjamin Jobim: a “gaia ciência” da poética da canção jobiniana
O trabalho pretende analisar as canções individuais de Tom Jobim à luz de algumas das reflexões de Walter Benjamin sobre a percepção aurática e a experiência na modernidade com o objetivo de investigar as metamorfoses do sujeito lírico no decorrer do cancioneiro jobiniano. Trata-se de entender a poética da canção jobiniana inserida em um campo de forças cuja lírica transita entre a fruição da natureza, a ataraxia contemplativa da cidade e a vida cotidiana do Rio de Janeiro na segunda metade do século XX, na medida em que ela aparenta harmonizar a Erfahrung – experiência articulada com a memória, a tradição e o passado coletivo – e a Erlebnis – experiência associada à vivência privada, à percepção individual e ao choque da modernidade.


Gabriel Veppo de Lima
Identidade Nacional e Musica Popular
Este trabalho busca levantar uma discussão sobre a questão da identidade nacional e sua relação com música popular no processo de construção/representação identitária brasileira. Para tanto, o trabalho busca problematizar relações opositivas binárias como: local/estrangeiro, pertencimento/exclusão, moderno/arcaico, proximidade/distância e etc, que alimentam o discurso da nacionalidade. A discussão de alguns eventos históricos específicos, como o show em que Carmen Miranda foi recebida  friamente por uma plateia de membros do governo Vargas, serve de ponto de partida para a discussão que, pretende lançar alguma luz no modo como se deu a relação entre identidade nacional e musica popular no processo  de construção identitária brasileira.


Tiago Hermano Breunig
Estesia em tese: a nacionalização musical marioandradiana
A nacionalização musical projetada pelo modernismo brasileiro, que implica a apropriação de elementos musicais do cancioneiro popular pelo meio musical erudito, representa, segundo Elizabeth Travassos, um desafio, qual seja, a identificação imediata e emocionalmente carregada com uma musicalidade brasileira. A afirmação de uma nova sensibilidade moderna, pressuposta pela referida identificação, implica a construção de um sentido nacional. O objetivo do presente trabalho consiste em compreender como a proposta marioandradiana de nacionalização musical, ao prescrever uma estesia, promove a referida afirmação de uma sensibilidade moderna como um processo de nacionalização da estesia.



Mesa 05. Literatura, educação e meio digital

Laura Josani Andrade Correa
O letratamento midiático em cursos superiores de educaçâo, linguagens e comunicação a partir das textualidades contemporâneas do videoclipe
O projeto busca uma abordagem metodológica para o ensino em cursos de educação, de linguagens e de comunicação social, com a utilização do videoclipe como ferramenta didática. Será uma proposta de letramento midiático guiada por esse objeto, visando empreender estudos teóricos e técnicos do audiovisual. As investigações começarão com história e conceito do videoclipe, seguida pelo mapeamento desse gênero audiovisual como mediador de linguagens comunicacionais. Haverá uma história da mídia delineada a partir do videoclipe, na qual serão entendidas as refuncionalizações das eras culturais: cultura de massas, cultura das mídias e cibercultura. O objetivo é desenvolver uma pesquisa atuante no cotidiano do discente que impulsione a relação horizontal entre docente e discente resultando em aulas que despertem o interesse pela aprendizagem colaborativa.


Emanoel Cesar Pires de Assis
Leitura e Anotação de Textos Literários em Meio Digital: Uma Prática com a Ferramenta DLnotes
Este trabalho pretende dar visibilidade às experiências de utilização de ferramentas digitais para o ensino de literatura. Uma dessas ferramentas é o DLnotes: uma plataforma de anotação de obras literárias em meio digital. Tal ferramenta permite ao usuário fazer anotações, de natureza diversa, em textos literários que estejam em ambiente digital. Utilizado com os alunos de graduação em Letras Português da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC desde o início de 2011, o DLnotes mostrou-se ser um potencial mecanismo para o ensino de literatura. Em aulas que utilizam um ambiente digital em que, além da leitura de obras literárias, os alunos podem fazer anotações livres e semânticas no corpo do texto, o ensino de literatura mostrou-se bastante significativo e dinâmico. Se antes era necessário riscar os livros, quando os alunos os possuíam, e ir fazendo anotações ao longo do texto, agora, com a utilização do DLnotes, tais anotações podem ser feitas em meio digital, discutidas, comentadas e questionadas em sala de aula. Criando, assim, um ambiente fértil em reflexões diversas, além de colaborativo, enciclopédico e móvel. Uma vez que as anotações podem ser feitas e vistas em qualquer lugar que tenha conexão com a internete. Dessa forma, esta apresentação tomará as experiências da utilização de ferramentas digitais em sala de aula para o ensino de literatura como aportes para a construção e reflexão de novas metodologias e práticas de ensino e aprendizagem que dialoguem com o nosso atual contexto cultural. Contribuindo, assim, para o crescimento intelectual de alunos e professores e aumentando as possibilidades das práticas pedagógicas.


Otávio Guimarães Tavares
Poética e Retórica na Arte Digital
Este trabalho pretende delinear algumas implicações básicas que surgem ao relacionar uma pesquisa em poética e retórica (clássica) com o campo das artes digitais, tendo em vista os temas do estatuto artístico (a esteticidade ou não) e a existência ou não de uma finalidade na obra de arte. Trata-se de observar e comparar os modos de operação e funcionamento de ambos – impresso e digital – lançando mão de tratados de poética e retórica, como também de observações sobre a programação em código-fonte, para assim evidenciar o caráter procedural implícito tanto nas construções literárias quanto na programação necessária para a criação no meio digital.



Mesa 06. Hilda Hilst, corpo e escrita

Telma Scherer
Escrever: existir sem garantias
As ressonâncias dos resíduos performativos no texto literário; a presença do corpo e voz na criação poética são os alvos centrais de minha pesquisa. Nesta apresentação, procurarei abordar leituras do processo criativo a partir de sugestões encontradas em Helène Cixous e seus Três degraus na escada da escritura. A tessitura de conceitos irá conformar-se à leitura de poéticas extremadas, escrituras do limite: passarei por fragmentos de Clarice Lispector, Arthur Bispo do Rosário, Hilda Hilst e Sylvia Plath. O desejo professado por Clarice em Água viva de extrapolar os limites de um fazer-sentido comezinho (a nossa utilização cotidiana da linguagem) duplica-se na chave de Cixous. O primeiro dos três degraus, a Escola dos Mortos, ensina que escrever é viver a morte sem morrer. Ousar dizer o indizível, onde estanca nosso conhecimento, pois o único livro que vale a pena ser escrito é aquele que não se tem coragem de escrever. Essa violência necessária é também uma insolência contra Deus, um alçar-se além dos limites da vida. O ato de escrever pede que Deus durma, em Hilst em três dos seus Poemas malditos, devotos e gozozos. Sono que é devoração: Deus precisa das palavras escritas por sua serva. Compreende-se melhor com essa devoração divina o ato criativo de Arthur Bispo do Rosário: cria para salvar o mundo do pecado. Sua escrita feita de memórias listadas salva do esquecimento tudo o que existiu. Nessa dialética de criar para devorar-se e matar-se para viver, o poema Lady Lazarus de Sylvia Plath complementa o quadro: a fala poética é a sempre ressuscitada. O objetivo é, portanto, ouvir nesse caminho os ecos de Cixous, passos que descendem seus degraus e degradês possíveis.


Rubens da Cunha
A prosa-teatro de Hilda Hilst
A obra teatral de Hilda Hilst é constituída de oito peças escritas entre 1967 e 1969. De caráter poético, mesmo sendo fortemente política, não é imediatista ou panfletária. É um teatro que trata de temas recorrentes na obra da autora: a morte, o sentido da vida, as injustiças, o pensamento ético submetido à força de sistemas políticos e econômicos. Após esse curto período de produção, Hilda não escreve mais dramaturgia no seu formato convencional. O objetivo dessa pesquisa é desenvolver uma leitura crítica sobre como a escrita de Hilda Hilst, posterior à obra dramática, vem imiscuída, desdobrada, hibridizada pelo teatro, não apenas como estrutura tradicional, mas por uma gama de conceitos, tais como o absurdo, a crueldade, o pobre, que marcaram o produção teatral contemporânea.


Luciana Bittencourt Tiscoski
O cinismo da modernidade em Hilda Hilst e Samuel Beckett
Com o fim da guerra, dominam o vazio e a fragilidade da vida e do corpo. O projeto modernista vê-se diante das imagens inevitáveis de decomposição que restaram em ruínas e morte. É nesse clima que se pode reivindicar para alguns autores aos quais não restou nada além da sua ‘verdade’, o cinismo ao qual se refere Michel Foucault em suas aulas no Collège de France, pronunciadas entre 1983 e 1984, e reunidas no livro A coragem da verdade: o governo de si e dos outros II.
Neste ensaio, pretendo apresentar o escritor irlandês Samuel Beckett e a escritora brasileira Hilda Hilst como herdeiros de uma maneira de dizer-a-verdade que se dirige na contramão do discurso metafísico da psyckhé, em direção ao bíos como existência. Este dizer-a-verdade tão bem estabelecido nas obras de Beckett e Hilst trava-se num discurso de prestação de contas onde o eu, autor narrador multiplicado e fragmentado, apresenta-se como figura visível e risível, exposta em sua nudez. Os arroubos e demais encantos da alma cedem lugar a um corpo cheio de mazelas físicas, limitações de locomoção, putrefação e morte. Beckett e H.H. não poupam o leitor de suas abjeções e escatologias, a linguagem se faz com interlocução direta e ininterrupta. Diante da nudez dos personagens, resta ao leitor o constrangedor e desconfortável lugar de cúmplice de desgraças, como se assistisse à sua própria decadência física e moral.
Objetiva-se neste texto problematizar a questão da parresía, a fala franca, o dizer-a-verdade, no pensamento moderno transposto à escrita dos autores citados.



Mesa 07.  Literatura e música: estudos culturais

Miriam Conceição dos Santos
De Clara Nunes a Rita Ribeiro: a voz feminina na interpretação dos pontos de umbanda e candomblé na vida musical brasileira
Este trabalho visa traçar uma análise das interpretações de duas cantoras brasileiras: Clara Nunes e Rita Ribeiro. Clara Nunes desenvolveu seu trabalho de interpretações de músicas brasileiras que fazem menção à religiosidade praticada na Umbanda e Candomblé e ainda incluiu em seu repertório os cânticos utilizados nos rituais dos terreiros. Rita Ribeiro realizou uma releitura desse mesmo gênero e repertório incluindo elementos contemporâneos como a música eletrônica. Iremos discorrer sobre os seguintes aspectos: a influência das práticas culturais africanas, a voz cantada; a música afro-religiosa cantada no Brasil, a eletronização da música brasileira; arranjo das músicas interpretadas; performance vocal e corporal.                                                                                                     Objetivos: Analisar as interpretações das cantoras Claras Nunes e Rita Ribeiro nos cânticos de umbanda e candomblé; Verificar as relações entre a voz feminina, a execução e a popularização dos cânticos; Estabelecer diferenças entre as interpretações das cantoras; Elucidar aspectos da voz cantada. O estudo visa contribuir para o enfoque na área da vocalidade baseada nos estudos, inicialmente de Zumthor e de outros autores da área da literatura.                                 
Metodologia: Análise das músicas gravadas na obra de Clara Nunes em discos de vinil, CD e vídeos; Análise das músicas gravadas na obra de Rita Ribeiro em CD, DVD e vídeos; Audição das músicas interpretadas pelas cantoras com enfoque na performance vocal; Audição das músicas interpretadas pelas cantoras com enfoque nos arranjos e suas interferências nas performances; Análise comparativa das interpretações de músicas gravadas igualmente pelas duas cantoras; Audição das músicas em DVD interpretadas pelas cantoras com enfoque na performance corporal;


Letícia Laurindo de Bonfim
Funk carioca e representação do feminino: ironia através da canção?
Este estudo tem por objetivo analisar e discutir sob ponto de vista dos estudos culturais, literários e de gênero, as representações do feminino nas canções da MC carioca Tati Quebra-Barraco. O funk carioca, sobretudo após a sua fase de erotização, permite que sejam discutidas as representações do feminino, uma vez que as MCs abordam a sexualidade da mulher de uma maneira muito particular. Essas representações dialogam com a figura feminina versada desde o período colonial, passando pela literatura romântica, pela música popular e chegam à contemporaneidade com revolução sexual e com as discussões sobre feminino e masculino.


Edelu Kawahala
Entre os lusos e os trópicos ou a paradoxidade da negritude e lusotropicalismo, nas obras Kizombas, Andanças e Festanças e Os Lusófonos de Martinho da Vila
O trabalho apresentado tem como objetivo, refletir as obras do escritor Martinho da Vila, Kizombas, Andanças e Festanças e Os Lusófonos, tendo como foco as relações raciais e as conseqüências do colonialismo. Pensar as relações raciais no Brasil na contemporaneidade implica em pensá-la em sua complexidade, se por um lado os avanços são evidentes, por outro a situação de opressão racial ainda é uma constante. Além disso, figura no imaginário social a imagem de um Brasil Mestiço, em que a cultura negra é transformada em mercadoria, gerando uma contradição, pois o mesmo negro que produz esta cultura nacional oficiosa, o samba, a capoeira, o candomblé, a umbanda e talvez mesmo a literatura afro-brasileiras, continua alijado de seus direitos mínimos de cidadão. O paradoxo estabelecido no processo colonial brasileiro, do país mestiço que deu certo, mote da teoria lusotropical, mas com práticas racistas sedimentadas em todos os setores da sociedade, produz sujeitos contraditórios e paradoxais, incapazes muitas vezes de reconhecer a violência da herança colonial e do racismo. Pensando na importância das produções culturais na construção da sociedade e das subjetividades contemporâneas, optou-se por uma análise das obras de Martinho da Vila, Kizombas, Andanças e Festanças e Os Lusófonos, sendo este autor uma voz da periferia; negro, suburbano e sambista, pode-se pensá-lo como um importante representante da cultura popular brasileira. Pensar as diferenças entre Kizombas, Andanças e Festanças e Os Lusófonos, talvez não implique em pensar na contradição, mas numa paradoxidade consequente do processo colonial. É assim que o mesmo brasileiro que orgulha-se da sua mestiçagem pode ser racista e ver inferioridade nos elementos negros que o constituem, o que gera por vezes uma atitude de subalternização. A reversão desta condição somente será possível a partir de um processo de descolonização do saber, como apontam Curiel (2007), Quijano (2005) e Jordan (1985).



Mesa 08. Literatura, criação e meio digital

Paula Carolina Ribeiro
Apontamentos sobre o processo de produção colaborativa em narrativas impressas e digitais
A pesquisa tem como objetivo traçar um percurso de identificação de produções colaborativas, tanto impressas quanto digitais. Para tanto, pretende-se buscar obras literárias que foram construídas de forma coletiva, por dois ou mais autores, observando as individualidades ali presentes. A primeira exploração passa pela literatura dos séculos XIX e XX, período no qual teve início a produção em massa. Também são identificadas, nos meios digitais, obras construídas a partir de produção colaborativa. A intenção é fazer uma comparação entre conteúdos e mecanismos utilizados nas obras impressas e digitais, observando a tradição literária e a os produtos encontrados no meio digital.


Everton Vinicius de Santa
Literatura e Memória no papel e na tela: 1990-2010
Este projeto de tese volta-se para os estudos literários contemporâneos e trata dos mecanismos de memória e da criação literária envolvendo os meios impresso e digital, sobretudo, com foco no romance e na influência do espaço digital na constituição do texto literário e da identidade desse sujeito-autor. Esta pesquisa consiste na identificação de problemáticas estéticas com respeito à ficção contemporânea brasileira: o "autor midiatizado" e o embate factual x ficcional. Nossa hipótese é que o envolvimento dessas duas perspectivas (os espaços digitais e a autoficção) no romance contemporâneo, nos permitem pensar a multiplicidade de relações entre literatura e meio digital, sobretudo, entre práticas de literatura e a influência dos espaços virtuais na constituição da obra literária e da própria identidade do autor, o que evidencia uma tendência à autoficção. O estudo volta-se então para as técnicas de criação da narrativa empregadas por autores que tratam da memória (por isso fala-se em autoficção) não apenas como recurso discursivo ou técnico, mas sim, como fundamento para sua criação literária. Nesse sentido é que a escrita contemporânea de literatura permite-nos visualizar espaços de autorrepresentação e autoexposição da figura de um "eu" no limiar entre factual e ficcional.


Alexsandre Adir de Souza (Aleph)
Recortando palavras da página e jogando-as pela janela
A Biblioteca de Babel começa a emergir? Os novos escritores conseguirão produzir uma nova frase, uma nova idéia e ter a certeza de que ela já não foi escrita em um outro livro? Ou isso não importa mais? O livro, um dos dispositivos mais antigos e persistentes de nossa história pode ser aberto como uma porta presa por gonzos. E quando entramos em sua sala interna as palavras podem ser tocadas e cheiradas, um fetiche que acompanha invariavelmente todos os leitores, em um momento ou outro de sua vida. E aqueles que trabalhavam em antigas gráficas tipográficas — quando os exemplares eram impressos um a um em um laborioso processo e precisavam secar antes de serem agrupados em cadernos e costurados manualmente — não podiam nem tocar os impressos assim que eles saíam da prensa, arriscando borrar a tinta, como uma memória que fosse borrada. A palavra eletrônica não pode mais ser tocada, sentida, esfregada ou borrada. A palavra eletrônica é alimentada por pequenas cargas elétricas que a mantém ativa e se o escritor não tiver uma cópia de segurança ou um rascunho escrito à mão, pode dar adeus ao seu texto se sua máquina sofrer uma pane ou for destruída. Por outro lado a palavra eletrônica pode ser recortada, colocada e recombinada com muito mais facilidade, podendo ser replicada incessantemente na internet, através de blogs, websites, e-mails ou arquivos compartilhados. Assim, para alguns, parece mais simples se utilizar de trabalhos de outros para compor seu próprio trabalho. Roubar personagens esquecidos em blogs desconhecidos e “contratá-los” para o seu romance, mudando seu nome (ou não) e submetê-lo a novas aventuras.



Mesa 09. Corpo e performance

Tiago Costa Pereira
Um povo à escuta: invocação e evocação em Barack Hussein Obama
Na campanha eleitoral de 2008, Barack Hussein Obama se tornou politicamente, e em escala mundial, visível. Em uma cena caracterizada por oito anos de mandato de George W. Bush, uma política belicista e uma enorme crise financeira, Obama surge em uma condição de antagonismo. Um antagonismo que expõe uma nova figuração de sujeito-presidente. A proposta deste trabalho é propor como este antagonismo/diferença vem, também, pela voz. A intenção é, partindo de registros acústicos da campanha de Obama, propor a voz como espaço de constituição deste novo sujeito, desta nova forma de se apropriar da tradicional cena política americana. Aqui, é importante ressaltar, a voz é pensada antes e/ou além de qualquer sistema de significação.  O que se tenta apreender, escutar, não é o dito por Obama, mas a singularidade e unicidade deste dizer.  O gesto de escuta aqui proposto procura fazer ouvir a sonoridade, o ritmo, a esfera puramente acústica. Que traços vocais se estão presentes em Obama e não em Bush? Qual o potencial de convocação, invocação e evocação que esta nova voz apresenta? Como Obama parece por em movimento, através de uma sonoridade vocal, um povo que estava à escuta e à espera de uma transformação e saída para a crise, o desastre. Para tal, este trabalho toma como ponto de partida a noção de voz, e alguns gestos de escuta já empreendidos, a partir de Adriana Cavarero, Mladen Dolar, Jean-Luc Nancy e Pedro de Souza.   


Louisy de Limas
Corpo em catástrofe: imagens e derivas
A partir da política do corpo, como um corpo que se deixa mediar pelo sexual e pelo crime, proposta por Bataille no anos 20, propõe-se analisar a passagem do corpo e suas representações, em cenas como o Três estudos para uma crucificação¸de Francis Bacon (1962), a alegoria de Salomé e as fotografias do lingchi (ou leng-tch’e), a “tortura [chinesa] dos cem pedaços”. O que se propõe é perceber o a dimensão que o corpo assume pela via da arte, propondo suas aberturas e passagens.

Evandro de Sousa
Roberto Piva e os sentidos abertos da perversão
 “Onde começa a perversão e quais o sentidos que ela encontra?” talvez esta tenha de ser a primeira pergunta ao se olhar para o jogo erótico poético elaborado pelo poeta paulista Roberto Piva (1937-2010), cuja obra faz a basculação do desejo entre a perversão (cujo eixo é, essencialmente, homoerótico) e uma reelaboração dentro da mística xamânica.  Sendo que, no entanto, o trabalho poético e sua escritura se compõem sempre dentro de uma linguagem (enquanto experimentação significante), toda transgressão simbólica ou imaginária, nos termos destacados pela hipótese de Barthes em Sade, Fourier, Loyola (1971), resulta em perversão, com seus devidos caracteres de fenômeno sexual, político, social, psíquico, trans-histórico e estrutural. O que se quer, no entanto, diante  desta proposta é avaliar a dimensão deste gesto,  suas reestruturações e o valor “cultural” que assume em sua circulação, já que contra um certo programa de controle (no limite: extermínio) dos corpos, Piva propõe uma proliferação de experiências corporais.



Mesa 10. Arquivo I: Crítica e periódicos

Leonardo D'Avila de Oliveira
A ordem das abstrações
A partir da pesquisa em periódicos católicos da década de 30 no Brasil, pretende-se investigar como surge uma literatura e até mesmo uma filosofia dedicada não apenas à ordenação do mundo material, com um embate político voltado a uma redescoberta da interioridade do homem, mas também dedicada ao agenciamento e hierarquização daquilo que é dito como espiritual, como instituições, valores, mitos, entidades, etc. Esse tipo de manifestação, portanto, demonstra um debate acerca da realidade das abstrações no Brasil da primeira metade do século XX e, a partir disso, serve como ponto de partida para melhor se esclarecer um contexto no qual se prefigurava tanto o movimento das imagens como o controle do imaginário.     


Fernando José Caldeira Bastos Neto
Panfleto e Política - Um estudo no Homem do Povo de Pagu e Oswald de Andrade
O presente trabalho procura realizar um estudo não-autonômico sobre o jornal proletário O Homem do Povo, editado por Patrícia Galvão (Pagu) e Oswald de Andrade entre março e abril do ano de 1931. O objetivo é, através da análise deste meio de comunicação, abrir brechas para leituras alternativas às asfixiantes abordagens baseadas na ortodoxia stalinista da qual ambos os autores foram tributários naquele ano, e que certamente marcou profundamente suas obras, mas que não esgotam as potencialidades de duas figuras tão prementes para as vanguardas brasileiras e para a subjetividade do Século (Badiou). O trabalho propõe levar à cabo a aposta de que o momento de stalinismo antropofágico de Oswald do início dos anos 30 está baseado não apenas na fidelidade cega ao acontecimento de 1917, isto é, um “desvio de rota”, ou “gratuidade intelectual”, mas na força da insubmissão presente em todo verdadeiro artista e pensador. Ou, nas palavras próprias de Oswald: “o seu fundamental anarquismo”.


Marta E. G. Scherer
Crônica: arquivo fragmentado da modernidade
A busca pelos fragmentos da modernidade em forma de crônica é o mote deste artigo, que apresenta o trabalho de pesquisa em arquivos para a construção da tese “Jornalismo em tempos modernos – os espaços e as gentes nas crônicas de Olavo Bilac”. A descoberta dos textos publicados em periódicos, definidos por Bilac como “poeira tênue da história”, nos remete aqui, sobretudo, ao pensamento de Walter Benjamin, dado o esforço de recolher o que se encontra escondido entre as linhas dos textos das crônicas, muitos deles ainda mais obscuros por sua condição de encaixotados, microfilmados, quase inacessíveis, até mesmo quase invisíveis em sua diáfana transparência de papéis gastos.  São esses documentos que são inscritos e escritos nas páginas que tentam formar um caleidoscópio da modernidade, no qual as pedrinhas coloridas serão estilhaços de textos, de teorias, de histórias, de passagens.  Como está na própria etimologia da palavra caleidoscópio, talvez nada mais seja do que belas imagens para se observar. O objetivo é apresentar essas imagens textuais, talvez não tão belas, mas certamente caleidoscópicas, como o jornalismo de Olavo Bilac, seus espaços e suas gentes em tempos modernos.


Fernando Floriani Petry
Crítica e ficção: revista do livro e IEB
A proposta dessa comunicação é apresentar os desdobramentos atuais da pesquisa de doutorado acerca da Revista do Livro, focando os números concentrados entre os anos de 1961 e 1966, sob direção de Augusto Meyer, com a participação de Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Gilberto Freyre. A hipótese aqui perseguida é a de que o encontro desses críticos corroborou o processo de criação e estruturação do IEB, Instituto de Estudos Brasileiros, da USP, por Sérgio Buarque de Holanda, em 1962.



Mesa 11. De lá do Atlântico: África e o pós-colonialismo

Jane Vieira da Rocha
As margens da experiência: os miúdos e os mais velhos na narrativa de Ondjaki
A pesquisa situa-se na esfera dos estudos de Literaturas Africanas de expressão portuguesa apresentando um olhar para os romances Bom dia Camaradas e AvóDezanove e o segredo do soviético do escritor Ondjaki. Temos como proposta investigar a representação de personagens crianças e de mais-velhos na narrativa do escritor angolano Ondjaki, bem como a sua relação com a história recente de Angola.
Apresentamos essa reflexão sobre os romances do escritor Ondjaki, apoiada nas teorias pós-coloniais e dialogando com a tese de Walter Benjamin apresentada no ensaio O narrador: Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Conjuntamente a essas formulações, apresentamos alguns elementos da historiografia angolana, que contribuem para se pensar as relações entre as narrativas de Ondjaki e a história angolana no contexto de pós-independência.
A pesquisa objetiva identificar a relação existente entre os personagens crianças
e mais-velhos na obra do escritor Ondjaki e a história recente de Angola. Através da análise da narrativa de Ondjaki buscamos reconhecer os elementos literários que o autor utiliza e de que maneira ocorre o diálogo com a história recente angolana. O diálogo com a crítica literária angolana na contemporaneidade será realizado como maneira de construir um caminho para a análise das narrativas do escritor Ondjaki.


Evillyn Kjellin
Identidade, tradição e tradução cultural em "O último voo do flamingo" e em "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", de Mia Couto
No desenvolvimento de minha dissertação pretendo expor questões que engendram os romances de Mia Couto, "O último voo do flamingo" e "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", como identidade, tradição e tradução cultural. A intenção é propor discussões acerca desses temas tão pertinentes na contemporaneidade, sobretudo no que se refere aos países africanos que passaram pelo processo de colonização e apenas recentemente conquistaram a independência política. Assim, procuro elucidar também alguns pontos fundantes da relação entre literatura e o contexto histórico em que esta foi produzida, pois essa relação suscita diversas análises que se convertem em diferentes matizes. Para tanto, tomo como referência alguns estudiosos da cena literária africana de língua portuguesa e também autores clássicos das teorias pós-coloniais.


Franciele Rodrigues Guarienti
Nas tramas da história: Uma reflexão sobre a narrativa histórica na obra de José Eduardo Agualusa
 A partir da independência de nações africanas como Angola, passou-se a acreditar que o colonialismo havia se tornado passado, pois esses países teriam encontrado uma chance de desenvolvimento político surgindo a possibilidade mostrar ao mundo a heterogeneidade do continente africano.  Mas as raízes coloniais se mostraram mais profundas do que apenas os aspectos relativos à política, envolvendo também diversas questões ideológicas e culturais.
Na construção da história da África pós-colonial era preciso estabelecer uma produção de bens culturais que reproduzissem essa nova identidade que estava se  construindo.  A escrita na língua trazida pelo colonizador possibilitava o alcance de uma parte da população já que esta havia sido adotada pelas escolas. Em contrapartida, com ela os escritores deveriam criar um sentimento identitário e ao mesmo tempo, a língua serviria com um instrumento de denúncia das atrocidades cometidas pelo colonizador.Para que cada leitor se identificasse com esta escrita, foram incorporados termos e elementos ritmicos de línguas nativas como o Kimbundu, afirmando as raízes e fazendo a singularidade da criação literária dos escritores angolanos. José Eduardo Agualusa apresenta em suas obras um panorama da cultura angolana problematizando a memória social e a afirmação das raízes como projeto de futuro, dando assim ênfase à produção em prosa do período pós-independência. Na contemporaneidade, Agualusa desconstrói os acontecimentos históricos para questioná-los.A partir dos romances A Conjura; Estação das Chuvas; Nação Crioula e O Vendedor de Passados de José Eduardo Agualusa, serão analisadas as formas de representação da experiência histórica na construção dos personagens ficcionais dentro do contexto angolano, utilizando, para isso, o instrumental teórico disponível para os estudos pós-coloniais, assim como materiais de apoio bibliográfico nas áreas de teoria e crítica literária e história.


Tiago Ribeiro dos Santos
Castro Soromenho e Paulina Chiziane: projetos (pós) coloniais
No âmbito das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, destacamos as produções do período colonial e pós-colonial, a partir da atuação de escritores de dois países em momentos diferentes. No romance Terra Morta, de Castro Soromenho, e no romance Ventos do Apocalipse, da escritora Paulina Chiziane, observamos como Angola e Moçambique, respectivamente, lidaram com o projeto colonial e pós-colonial em períodos distintos da história.



Mesa 12. Cinema e televisão, conflitos e fronteiras

André Piazera Zacchi
Documentário e tradução em Alberto Cavalcanti
Alberto Cavalcanti realizou diversas traduções de textos para o cinema. Em sua filmografia de 118 títulos, destaco Yvette de Maupassant, Capitão Fracasso de Téophile Gautier, La Jalousie Du Barbouillé de Moliére, Chapeuzinho Vermelho de Perrault, Went the Day Well? de Grahan Greene, Nicholas Nickleby de Charles Dickens e Herr Puntila und Sein Knecht Matti de Bertold Brecht. Pretendo aproximar a predileção pela adaptação de Cavalcanti da sua produção de documentários, em especial aqueles realizados na Inglaterra dos anos 30, tratando-os como tradução. Os textos fílmico e escrito apontariam para uma “pura língua” (Walter Benjamin – A Tarefa do Tradutor) e é nessa tradutibilidade que se dão as semelhanças. Como enxergar o documentário enquanto tradução? Traduziria que texto? Onde se daria a tradução, na filmagem ou na montagem? Como os filmes de Cavalcanti nos ajudam a lidar com essas questões? São
perguntas que balizam o caminho que desejo percorrer.


Roberta Cantarela
O conflito edipiano de Oh Dae-su
Este trabalho tem como objeto de estudo a obra fílmica “Old Boy” (2003), dirigido por Chan-wook Park. O enredo da narrativa cinematográfica é em torno de Oh Dae-su, um homem ordinário entre outros na Coréia do Sul, que sem saber o motivo fica confinado numa prisão privada sem contato humano por 15 anos e um dia é solto. Em busca de vingança pela sua prisão Oh Dae-su procura freneticamente a verdade, tal como o personagem grego Édipo Rei. E nessa busca pela verdade Oh Dae-su encontra a resposta dos seus infortúnios, no entanto a verdade para ele é tão trágica como foi para Édipo. Sendo assim, esta pesquisa terá como suporte teórico o livro “A coragem da verdade – O governo de si e dos outros II” (2011) de Michael Foucault.


Maria de Nazaré Cavalcante de Sousa
Traços de Interculturalidade na ficção televisiva
 O artigo busca analisar as formas de materialidades em que foram engendrados traços de interculturalidade na minissérie televisiva Amazônia: De Galvez a Chico Mendes, da teledramaturga Glória Peres, exibida, em 2007, pela Rede Globo de Televisão. A obra mostra, através de imagens, temas como relações de fronteiras e identidade, entendendo que - entre os diversos campos semânticos de linhas do pensamento moderno sobre as trocas culturais - a Interculturalidade se particulariza no prefixo ‘inter’, que se define não apenas como um elemento de transição cultural mas como situação de tensão nas relações culturais  que determinam mudanças e diferenças em um tempo e espaço. O artigo analisará a forma pela qual um meio de comunicação de massa trabalha com essa relação de identidade e cultura numa narrativa centralizada  entre os séculos XIX e XX  e exibida no século XXI, tendo como principal ação dramática os conflitos entre as fronteiras do Brasil e da Bolívia, envolvendo, neste conteúdo narrativo, as relações culturais entre imigrantes de diversos países,  como também a presença dos migrantes nordestinos, bolivianos e povos indígenas. Por ser a mídia hoje um agente da coletividade, tais temas, que colocam a questão da cultura e identidade em realizações imagéticas apresentando comportamentos específicos, sucintam instigantes reflexões.


Bruna Machado Ferreira
Guevara - algumas leituras
A partir do texto de Ricardo Piglia, Ernesto Guevara, rastros de lectura, compreender a figura do leitor Guevara proposta pelo autor, onde a ideia de leitura se desloca da atividade que implica sedentarismo, observação distanciada, para ação transformadora, que confere forma e sentido à experiência. Há, pois, uma tensão entre o ato de ler e ação política. Essa perspectiva, em que a leitura aparece como modelo ético para o guerrilheiro em sua forma pura, possibilita estabelecer novas relações com o narrador de Walter Benjamin; a questão do trânsito, a perambulação por zonas de marginalidade no trabalho do artista plástico Hélio Oiticica; e o cinema político de Glauber Rocha (principalmente o filme Terra em Transe e o personagem do poeta Paulo Martins). Proposições em que arte, vida, política se interpenetram, reestruturam um novo modelo ético - que parte do contato com a realidade social, da resignificação do sujeito - e definem um novo comportamento, relação diferenciada com o corpo, a moral, o outro.



Mesa 13. Arquivo II: Manuscritos

Raquel da Silva Yee
Fragmentos da escrita de si
A partir dos desdobramentos do projeto de doutorado, apresentarei, nesta comunicação, as notas de tradução de Odorico Mendes (1799-1864) como paradigma dos possíveis, um convite à passagem (por sua função meta) e a ultrapassagem (por sua função exegética). Odorico Mendes faz preceder seu texto de longas notas preliminares nas quais faz digressões, explica ou se explica. A arte de variantes e de escolhas, nas quais toma naturalmente parte, transforma os fragmentos em discursos de suas subjetividades e de suas pressuposições do contexto sociocultural no qual se insere.


Ana Carolina Teixeira Pinto
Dejemos hablar al viento: Uma leitura crítica do corpus (narrativo) de Juan Carlos Onetti
A pesquisa Dejemos hablar al viento: Uma leitura crítica do corpus (narrativo) de Juan Carlos Onetti propõe pensar a configuração estrutural do romance Dejemos hablar al viento publicado em 1979. Esta narrativa se configura como um espaço de condensação e divergência da poética do escritor uruguaio, pois é aí que se cruzam e se disseminam a ordem da leitura e a ordem da escritura. Para esta reflexão está sendo realizada a análise dos manuscritos de tal romance, arquivados no Departamento Archivo Literario da Biblioteca Nacional de Montevidéu que até então não haviam sido devidamente estudados. Esta análise é intermediada à luz dos textos incluídos nos livros La dissémination, Mal de arquivo e Papel-Máquina de Jaques Derrida, além de outros pensadores e teóricos.


Ibriela Bianca Berlanda Sevilla
A não-obra de Roberto Piva: um olhar sobre o arquivo
Esta comunicação apresenta de modo geral, como se encontra o arquivo de Roberto Piva no Instituto Moreira Salles e como a pesquisa neste arquivo modifica e embasa meu projeto original. Lidar com um arquivo que a muito se encontra intocado implicou uma critica genética e a criação de um modelo de organização de notas próprio. Lido também com um arquivo inexistente para meu interlocutor, uma não-obra, pois a questão dos direitos autorais impossibilitou a reprodução de qualquer material presente no arquivo. Sendo assim, atenho-me aos trechos copiados das cartas,cadernos de criação e manuscritos de Roberto Piva como apontamentos de possíveis relações entre sua obra poética e a do poeta Allen Ginsberg.



Mesa 14. De lá do Atlântico: Portugal

Jair Zandoná
Para uma cartografia do sensível: a poética de Bernardo Soares
Debruçar-se no(s) projeto(s) do "Livro do desassossego", incansavelmente articulado por Fernando Pessoa, implica percorrer as diferentes estratégias ali elaboradas. Se para a crítica, via de regra, há três fases de escrita do “Livro” (a primeira estaria vinculada muito mais ao simbolismo, seria “anterior” à descoberta heteronímica e corresponderia à produção entre 1914 e 1917; a segunda compreenderia até 1929, período em que o Livro permaneceu em dormência, com produção rarefeita e não datada; a terceira seria de 1929 a 1934, período em que os textos são datados), uma possível unicidade estaria na designação da autoria do texto a Bernardo Soares pelo autor de "Mensagem". Na extraordinária arte de não-ser pessoana, como disse Jorge de Sena na primeira introdução ao Livro (1964), o semi-heterônimo seria o nada que o poeta descobre em si mesmo quando para de sentir. Nesse sentido, esta comunicação se propõe a analisar o material do qual se mune Soares para elaborar seu “Livro”, ou seja, sua “própria” vida, expressa pelo vazio interior, sentimento de inexistência, e que toma corpo pela grande viagem literária da modernidade, materializada, em certa medida, pela cidade de Lisboa. A forma como o texto chega para os leitores – uma vez que em vida Pessoa apenas publicou trechos destinados ao L do D – aponta para os traços da modernidade identificados por Compagnon (2010) na realidade pintada por Constantin Guys, especialmente o não-acabado e o fragmentário.


Julia Telésforo Osório
Pausas e continuidades: a poesia de Rui Pires Cabral
Nesta comunicação, apresento o andamento de minha pesquisa de mestrado, na qual tenho como objeto de estudo questões de ritmo a partir da poesia de Rui Pires Cabral. O poeta contemporâneo português já publicou sete livros desde 1994, quando estreiou com Geografia das estações em um cenário de textualidades poéticas múltiplas e dispersas, um "mosaico fluido". Dos livros que tenho como corpus de análise, os três últimos publicados nos anos 2000, nota-se o contínuo trabalho com o tema da viagem e o registro de cotidianos urbanos, atravessados por um ritmo singular que usa, e abusa, de versos livres e enjambements, que pausariam a contemporaneidade. Pretendo, assim, expor a ideia inicial de meu projeto de pesquisa e o seu andamento através de um curto relato.


Patrícia Chanely Silva Ricarte
A dissimetria da concha: o poema em prosa contemporâneo e a ideia de forma em poesia
Nesta comunicação, apresentarei a discussão inicial do meu projeto de tese, intitulado “As múltiplas formas da experiência e do pensamento no poema em prosa contemporâneo”. Para esta ocasião, trarei alguns dados e reflexões em torno da relação do poema em prosa com a ideia de forma em poesia, a partir de textos de autores brasileiros e portugueses. Nessa perspectiva, partirei da noção de “dificuldade da forma”, apontada por Paul Valéry acerca da poesia de Charles Baudelaire, passando pela discussão em torno da crise de verso mallarmeana, para chegar à ideia de forma em nascimento ou em andamento, concebida por alguns poetas da contemporaneidade tanto no Brasil quanto em Portugal.



Mesa 15. Gênero e literatura

Clarice Fortunato Araújo
Nem do cravo nem da canela, o entre-lugar mestiço de Gabriela: uma análise da mulher mestiça retratada em Gabriela cravo e canela, de Jorge Amado
Este trabalho tem o intuíto de fazer uma análise sobre  o perfil da personagem Gabriela do romance “Gabriela cravo e canela”, de Jorge Amado, 1958 e traçar um paralelo com sua adaptação cinematográfica de mesmo nome, dirigido por Bruno Barreto, de 1983. Com base nas impressões da personagem, tanto do romance escrito como no cinema, analisar como foi o processo intersemiótico. Ancorada epistemologicamente nos estudos pós-coloniais, debater os aspectos de mestiçagem,  as questões de hibridismo, gênero e tradução cultural. Considerando que, cada vez mais a mulher assume uma postura política e social em busca dos seus direitos, é fundamental investigar como é feita a representação da mulher afro-brasileira nas mídias em questão, os esteriótipos, a opressão e os padrões estéticos e como estes fatores operam na sociedade. Essas discussões serão amplamente debatidas, afim de fomentar e trazer novas perguntas.


Tatiana Brandão de Araujo
As subculturas e suas representações no Cinema Queer
O presente projeto tem por objetivo investigar as representações das subculturas no cinema queer, especialmente às ligadas ao universo da música. A pesquisa parte de uma perspectiva feminista, tendo autoras como Teresa de Lauretis (1994), Judith Butler (2003) e Judith Halberstam (2005) como suporte teórico para as discussões sobre os sujeitos queer, mais especificamente as lésbicas, por serem essas personagens recorrentes nos filmes analisados. A investigação é de cunho qualitativo, de natureza bibliográfica, e prevê a análise fílmica a partir das ideias de Marcel Martin (2005). Este trabalho se propõe a refletir sobre os sujeitos que fogem às regras socialmente estabelecidas, aqueles que buscam a autonomia frente à homogeneização dos discursos dominantes, mais especificamente no plano das representações cinematográficas, selecionando obras específicas para a análise. Desta forma, a ideia não se resume apenas à análise das representações, mas também para pensar sobre aqueles(as) que são responsáveis pelas mesmas. Nesse sentido, refere-se a diretoras e diretores que através de suas produções, questionam a heteronormatividade, apresentando sujeitos que escapam à norma, tornando visível o que durante muito tempo foi silenciado. Como o espaço da subcultura é um cenário recorrente no cinema queer, é evidente a importância desses lugares para os sujeitos dessas histórias, espaços que se colocam como à parte das normas que controlam a vida em sociedade.


Marcelo Spitzner
Foucault, Butler e Queer Studies: problematizando apropriações conceituais e suas relações com o campo dos estudos literários
Uma das principais influências sobre o pensamento de Judith Butler tem sido o trabalho de Michel Foucault. Embora esta relação é frequentemente comentada, raramente é discutida em detalhe. Neste trabalho, me proponho a mostrar como Butler interpreta, inicialmente, o projeto de Foucault através da genealogia nietzschiana e a psicanálise, e como ela desenvolve mais tarde, esta interpretação em consonância com o progresso do seu próprio projeto. Esta análise centra-se no aspecto do trabalho de Foucault que mais influenciou o pensamento de Butler: a saber, a noção de uma relação entre o discurso, conhecimento e poder. As outras questões de seu trabalho que Butler aborda -genealogia, o sujeito, o corpo, anormalidade, e a sexualidade seriam discutidos dentro deste quadro. Eu pretendo mostrar, ainda,  como, no início dos anos 1970, Foucault desenvolve a noção de poder-saber, e estabelece uma relação entre poder-saber e do discurso que é dominada por Butler. Defendo que Butler interpreta o poder foucaultiano através das noções de repressão e normas sociais, e ignora os conceitos de tecnologia e estratégia que formam uma parte-chave (questão-chave) do pensamento de Foucault. Dessa maneira, levanto a hipótese de que, a partir de A Arqueologia do Saber em diante, Foucault desenvolve uma ontologia sócio-histórica e uma genealogia do sujeito, sendo que ambos se encontram e se deslocam na interpretação de Butler de seu pensamento. Feito esse percurso teórico, perceber como o pensamento de Butler e Foucault vertem para os chamados queer studies e como eles têm sido apreendidos pelos pesquisadores dos estudos literários brasileiros que se reunem em torno da Assossiação Brasileira de Estudos da Homocultura e que se utilizam dos conceitos de gênero, sexualidades, norma, heteronormatividade, performatividade, entre outros da teoria queer e/ou da crítica feminista, como categorias de análise e crítica literária dentro do contexto sócio-cultural-econômico e político brasileiro.



Mesa 16. Arquivo III: Imagem e procedimento de escrita

Maria Augusta Vilalba Nunes
O arquivo Zweig
O filme Zweig de Edgardo Cozarinsky se inicia com a imagem de um retrato do escritor austríaco Stefan Zweig, que refugiado no Brasil durante a segunda guerra, veio a cometer suicídio junto a sua esposa em sua casa em Petrópolis. O que chama atenção nessa imagem para além do rosto do escritor, é que seu retrato está preso por um clips em uma folha de papel branco, onde se lê: Stefan Zweig: 1881-1942. O que se vê então, não é mais apenas uma foto, mas uma foto anexada e legendada, logo classificada, aquele rosto é Stefan Zweig, nascido em 1881 e falecido em 1942, está ali escrito e fixado. O rosto de Zweig está desse modo representado como se fizesse parte de um arquivo, está catalogado e anexado. Essa primeira cena do filme já acena para o que para mim poderia vir a ser uma possível leitura sobre ele: Zweig é um filme feito a partir de arquivos, mas também um filme sobre arquivos. Levanto algumas questões que me parecem pertinentes para pensar como o arquivo opera dentro do filme de Cozarinsky. O diretor fala da história, de um período específico, determinado espacial e temporalmente, mas também busca antes de tudo a história de um indivíduo. Narrar, encenar, e contar uma história: a história de alguém, mas também história da história, história de uma época, o contexto em que Zweig estava inserido. O filme faz emergir a história a partir do sujeito e dos variados arquivos possíveis que estão em torno dele. Mas o que seriam esses arquivos? É justamente neste ponto que um pensamento sobre o arquivo vem a tona. O que daria a possibilidade desse arquivo existir? Ou melhor, em que circusntâncias ele é possível? 
Janete Elenice Jorge
Roberto Arlt e o texto máquina: engrenagens de uma literatura polifacética
A pesquisa tem como proposta discutir a narrativa de Roberto Arlt e seus procedimentos de escrita, toda uma mekhané que trabalha incessantemente no texto, os agenciamentos maquínicos que perpassam toda a obra, suas multiplicidades, a ideia de mapa, plano, literatura menor e a cristalização de discursos críticos sobre a obra arltiana. Para a abordagem do tema utilizaremos textos teóricos de Jacques Derrida, Gilles Deleuze e Félix Guattari. 

Victor da Rosa
Segunda imagem: o retrato em Machado de Assis
De que maneira, e segundo quais estratégias, a ficção de Machado de Assis solicita o retrato? E ainda: como é possível associar tal solicitação com a genealogia da fotografia no século XIX? Ao realizar estas duas perguntas – perguntas bastante pontuais, por um lado, mas bem amplas e mesmo complexas, por outro – pretendo elaborar a seguinte tese: a ficção de Machado de Assis, através de um modo de enunciar e tornar visível o retrato, pode sugerir ou mesmo oferecer uma teoria contemporânea da imagem. A tese torna-se mais complexa na medida em que será possível perceber que o retrato, em Machado de Assis, se apresenta ao mesmo tempo enquanto eixo temático e estratégia discursiva; enquanto representação e reconhecimento, mas também disfarce; torna reconhecível um rosto para, no instante seguinte, explicitar seu vazio.


Kelvin Falcão Klein
Por uma definição da categoria de inventário
O objetivo desta comunicação é expor o conceito de literatura do inventário, a partir da leitura conjunta e comparativa entre cinco textos literários: História universal da infâmia, de Jorge Luis Borges; A sinagoga dos iconoclastas, de Juan Rodolfo Wilcock; História abreviada da literatura portátil, de Enrique Vila-Matas; Vodu urbano, de Edgardo Cozarinsky; e A literatura nazi na América, de Roberto Bolaño. A partir de um painel diacrônico inicial, que apontará os contextos de emergência de cada um dos textos, a comunicação partirá para um exercício de sobreposição dessas poéticas, indicando os traços de contato. A partir do confronto desses elementos, esta comunicação colocará em evidência a categoria do inventário, pensada como uma força de configuração estética que emerge da montagem dos textos citados. Cada um dos textos, além disso, coloca em circulação questões sobre a abertura da história e do tempo, através da ficção, com a utilização do fragmento e da emulação do discurso historiográfico – questões que o presente trabalho busca elucidar. 


Mesa 17. De lá do Atlântico: Itália

Maria Amelia Dionisio
O século XX: considerações sobre a obra de Leonardo Sciascia
Alain Badiou em sua obra O século argumenta que a “Paixão pelo real” seria o leitmotiv de diversos acontecimentos ocorridos no percurso do século XX e vê nesse termo um conceito que possa expressar o tom pelo qual o período se deu. Esta paixão pelo real age em uma ótica dupla na qual os elementos dificilmente são conciliáveis: a percepção do fim próximo e uma potente vontade criadora, um possível fundamento de um novo início. A ideia de ruptura, de descontinuidade está no cerne desta questão e tornou-se a marca do século passado. A literatura e as artes ao pensar a relação entre violência real e semelhança, proclamaram a ruptura com o passado, com as diretrizes que já não podiam mais servir de modelo daquela realidade, um modelo estático e harmonioso que não correspondia à violência e turbamento presentes nas primeiras décadas do século. Dentro dessa perspectiva a partir dos elementos que caracterizam o século XX a partir da explanação de Alain Badiou, propomos discutir ao longo deste capítulo, à luz dessas considerações, a atuação do escritor siciliano Leonardo Sciascia (1922-1989) como artista, cidadão e intelectual atuante neste século, analisando algumas de suas obras com a finalidade de encontrar rastros que o fazem ser um escritor que procura compreender e analisar as brechas dentro da estrutura social da sociedade siciliana e italiana e suas transformações que são reconhecidas como fruto da “paixão” denominada por Badiou. Uma sociedade timbrada com o carimbo do crime, ou crimes, muitos com ligações de máfia e alguns deles metaforizados pelo escritor em seus romances policiais. A busca por uma ética, justiça e pelas verdades que seriam possíveis na composição do mosaico da realidade são traços a serem farejados e que foram relativizados em seus escritos.


Gleiton Lentz
Por uma poética simbolista italiana: história dos autores e obras simbolistas na península
O Simbolismo foi um “momento” assinalado “pela predominância de certos estados de espírito e pela convergência de certas influências”, resultado de uma atmosfera literária internacional atual e legítima em toda parte. No entanto, quando se fala de poesia simbolista, recorremos inicialmente aos grandes nomes dessa tendência que escreveram nas mais diversas línguas e países, porém, quando falamos precisamente de poesia simbolista na Itália, surge um grande ponto de interrogação, pois quem foram, na península, seus principais representantes? A pergunta parece ocupar uma página ainda não devidamente revelada, de modo que para entender o que foi a poesia dessa tendência na Itália, é preciso imergir num dos períodos mais férteis de toda a sua literatura: o período situado entre o tardo Ottocento e o primo Novecento. Período que, como define a historiografia italiana, caracteriza-se por uma literatura em contínua evolução, que inicia com as estéticas europeias da segunda metade do século XIX, como a Scapigliatura e o Decadentismo, até as vanguardas e movimentos literários do século XX, entre os quais o Crepuscolarismo. É justamente nessa gama de tendências que se encontram os poetas de orientação simbolista, poetas que escreveram não apenas sob o influxo da poesia francesa mas que deram continuidade ao movimento scapigliati, dando forma a um “simbolismo pátrio” sem precedentes na história literária italiana, possibilitando a configuração daquilo que o próprio Simbolismo concedia em sua essência: a originalidade literária como evocação de uma origem própria. Evidenciar os autores e as obras dessa tendência na Itália é a proposta desta exposição.


Rafael Miguel Alonso Júnior
Ginzburg: método, rigor e ficção
Entender a modernidade como mesa de operações ou tomar a modernidade como uma mesa de operações é, acima de tudo, pensar uma forma (método) de leitura desta moderna. Está em jogo não apenas a leitura de acontecimentos modernos ou contemporâneos, mas a possibilidade de colocar em prática um procedimento de leitura moderna, que ganhou força a partir do fim do século XIX e se consolidou ao longo do século XX. Um procedimento que flerta com o anacronismo, joga com as temporalidades, não se assombra com o heterogêneo e não busca a unidade. Toma-se como ponto de partida Carlo Ginzburg, especialmente o ensaio “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”, de Mitos, emblemas e sinais, em que Ginzburg aproxima Morelli, Freud e Conan Doyle. Ele problematiza a respeito da emergência de um conhecimento sintomático, indiciário, que levaria em consideração não tanto o todo quanto o detalhe, o vestígio, o negligenciável. No entanto, este resíduo negligenciável – que pode até mesmo partir do inconsciente – muitas vezes serve como ponto de partida para a reconstituição da totalidade que intencionava desmontar. Como um método de conhecimento que leva em conta o paradigma indiciário pode, por vezes, recair na historiografia centralizadora e cronológica. Está em jogo o conflito entre uma filologia que localiza a chave de leitura num passado identificável e, a partir daí, reconstitui a cadeia explicativa dos acontecimentos (desvenda o mistério, se quisermos) e uma outra possibilidade de leitura que admite o caráter provisório e poroso da configuração (da montagem) e a infinita possibilidade de releitura, abrindo caminho para a ficção – uma hipótese é levantada, mas o mistério segue em aberto.


Davi Pessoa Carneiro
Entre o sonho e a vigília: um pensamento díspar
Elsa Morante e Macedonio Fernández nos chamam a atenção para a exigência do gesto das semelhanças dessemelhantes? O que pode uma escritura que coloca em jogo duas noções que, a priori, podem parecer contrárias, tais como vigília e sonho? A meu ver, o confronto entre essas noções não apenas destacam aquilo que experimentamos, grosso modo, a partir de ambas, ou seja, que na vigília presenciamos fatos vividos e que no sonho presenciamos através de sensações os fatos não vividos, mas sonhados. Por qual motivo estes últimos são ignorados no dia seguinte? Duvidamos da existência daquilo que sonhamos, porém acreditamos muito prontamente nos fatos cotidianos? E o que falar dos sonhos, das imagens, dos relatos que construímos em estado de vigília e sonho ao mesmo tempo? A vigília nos lança sempre para o ambiente da objetivação, enquanto o sonho nos arremessa para aquele da subjetivação? As escrituras de Macedonio e de Morante parecem semelhantes naquilo que elegem como começo, ou seja, a escritura do romance, porém incluem no seu aspecto o informe, ou o dessemelhante. Neste sentido, a relação entre sonho e vigília a partir do Diario 1938, de Elsa Morante, e do texto “Como son diferentes la vida y el ensueño (introducción a la Metafísica)”, de Macedonio Fernández, nos possibilita pensar o confronto entre forma e informe, o qual produz figuras. Esta noção traz à tona uma questão fundamental: por que (como?) uma tese que relaciona dois escritores que nos parecem tão dessemelhantes? Neste gesto há uma mudança de posição, ou seja, a passagem de um pensamento do compars para aquele do dispars?



Mesa 18: Quem fala? Autobiografia e testemunho

Marilha Naccari-Santos
Eu, ficção
A pesquisa desenvolvida no âmbito do mestrado em literatura brasileira, teoria da modernidade, é "O ECOAR DAS NOVE NOITES: As cartas de quem na identidade de alguém. A identidade na leitura da memória ficcional e documental narrada em Nove Noites, de Bernardo Carvalho". O narrador-jornalista-investigador de Nove Noites não é nomeado, busco traçar que este narrador é autoficcional, um eu de Bernardo Carvalho, inventado por ele mesmo.

Claudia Renata Duarte
Vestidas de ficção
Proponho aqui apresentar minha leitura de Heranças, de Silviano Santiago, um romance do e para o século XXI, especialmente no que se refere à alegorização da passagem histórica da moda no período de expansão da capital mineira (1940 a 1960), a partir do fechamento de uma loja de armarinhos, herança paterna: tecidos, linhas, botões, colchetes, agulhas, alfinetes, “renda” feminina do capital familiar. O autor descreve, além da trama, a tragédia pessoal do narrador protagonista, perambulando e se desvencilhando de estilos e tendências, entre fiapos de lembranças de revistas de moda e do cinema hollywoodiano à obsessiva figura paterna. Autobiografia, ficção, memória, biografia, este romance nos permite ler a própria história e a teoria da literatura. Como fugir da tradição, como escapar da fraternidade, como esquecer a moda e uma explícita relação com a  história das mulheres, como encontrar no Rio de Janeiro um modo de se liber(t)ar da herança paterna? Ou seja, Heranças é mais uma das teses teóricas, criticas e ficcionais de Silviano Santiago: a vida como literatura,  as duas, literatura e vida, vestidas de ficção. Ou de  fi(li)ação.


Selomar Claudio Borges
POR UMA ESCRITURA BIOGRAFEMÁTICA : o autor performático e sua escrita de vida na ficção de Carlos Liscano
Partindo das ideias de Barthes de que tomar um autor a partir de pormenores ou vazios é um modo de reinventar esse autor e, assim, de produzir biografemas, e ainda de que a potência desses biografemas reside na sua própria proliferação na escritura, é que este projeto de pesquisa pretende discutir a tese de que a literatura do escritor Carlos Liscano se projeta a partir de um (auto) fazer biografemático para compor deste modo uma escritura (auto) biografemática. Além disso, ao refletir na indecidibilidade entre vida e escritura nos textos de Liscano, pretendemos vinculá-los àquilo que Derrida infere, ao tratar das noções de autografía e otobiografia, sobre a relação entre o remetente e o destinatário nos textos; igualmente, dos limites entre obra e vida, ao sugerir que o limite não se trata de uma linha tênue, invisível ou indivisível, já que ele não está fora nem dentro, e que, portanto, o biográfico é assim esta borda interna da obra e da vida na qual os textos são engendrados.


Helano Ribeiro
A extinção da experiência e do pensamento em Thomas Bernhard: enfrentamento estético e resistência
Este seminário tem o intuito de estudar a obra do escritor Thomas Bernhard (1931-1989), especialmente o romance Extinção: uma derrocada (1986), o drama Praça dos heróis (1988) e as autobiografias A causa: um indício (1975) e Uma criança (1982). Partiremos a partir das duas autobiografias e abordaremos a infância. Demonstraremos como a opressão nacional-socialista destrói a experiência e como essa perda e trauma resultados se dão na modernidade. Faremos um diálogo com a literatura de testemunho, em especial, com a obra do escritor italiano Primo Levi (1919-1987) e suas memórias sobre a Shoah, assim como Os diários de Victor Klemperer (1881-1960) e suas exposições sobre sua experiência nos campos de concentração durante a Segunda Guerra. Em um segundo plano analisaremos o drama Praça dos Heróis e o romance Extinção: uma derrocada. Através deles veremos se o que resta de Auschwitz são somente cinzas e o eco nacional-socialista, ou se Thomas Bernhard consegue impor uma nova linguagem no lugar do pensamento do III Império, através de sua escrita rizomática, repetitiva e da estética do exagero.



Mesa 19. Poesia, escrita e imagem: Lelminski e Alvim

Joacy Ghizzi Neto
Paulo Leminski e-pistoleiro
O presente projeto de dissertação tem como objeto a correspondência publicada do poeta Paulo Leminski: "Uma carta uma brasa através" (1992) e "Envie meu dicionário" (1999). Além das diferenças entre as edições do mesmo objeto, as cartas enviadas para Régis Bonvicino, o trabalho investiga as implicações teóricas para a crítica literária tratando-se de correspondência entre poetas (o autor, o arquivo, a obra). O trabalho ainda investiga o que seria uma provável "última geração dos e-pistoleiros", além de Leminski: Lygia Clark e Helio Oiticica, Ana Cristina César e Caio Fernando Abreu.


Elisa Helena Tonon
Fazer (a) cena: o poema como imagem em Paulo Leminski
Com o presente trabalho ensaio uma leitura dos poemas de Paulo Leminski como imagem. Nas biografias que escreveu, Leminski apresenta o relato de vidas que não configuram uma identidade ou o retrato de um sujeito, e sim imagens caleidoscópias, constituídas por meio do acúmulo de fragmentos e do movimento que dão forma a imagens efêmeras. Esse é também o procedimento encontrado nos poemas, marcados pelo uso da primeira pessoa do discurso e pelo tom de intimidade, neles  o leitor depara-se com imagens e figuras que, se numa primeira leitura parecem dar a ver um instantâneo, carregado de subjetividade, por outro lado, o olhar que se detém corre o risco de se perder na efemeridade da imagem forjada no poema - mais do que cena, os poemas são encenação. O drama, portanto, só existe  na linguagem por meio de artifícios retóricos, as conhecidas “figuras de linguagem” que, como ressalta Barthes, habitam a esfera da herança cultural e não da expressividade.


Laíse Ribas Bastos
"Não é desconfiança" apenas: a poesia de Francisco Alvim
O objetivo deste trabalho é pensar um percurso para a poesia de Francisco Alvim, principalmente, a partir de seu livro mais recente, publicado em 2011: O metro nenhum. Trata-se de investigar as relações estabelecidas no procedimento de escrita do poeta com outras dicções, como um sintoma identificável e que pode definir muito de sua produção poética. Na “desconfiança” ou na “falta de certeza” dos seus versos, a escrita de Francisco Alvim insinua que só é possível expor nuances de tempo e de vida no poema, se no próprio corpo da escrita, mesmo que essas nuances (de tempo, vida e poema) se estabeleçam como perda, recusa ou apagamento de sujeitos e de imagens.  



Mesa 20. Formas e figuras na literatura

Estela Ramos de Souza de Oliveira
O Arquiteto do Mal faz moradia sobre a terra
A estreita relação entre Satanás e a maldade sempre o identificou como o culpado pela gênese do mal. Sem a pretensão de refutar ou confirmar essa teoria, este trabalho limita-se a constatar correspondências estruturais entre o Diabo bíblico e o Diabo na literatura de cordel, conforme a metodologia proposta por Kuschel (1999), com o objetivo de apontar como seus autores apresentam a atuação desta personagem para a continua presença do mal no mundo. Ao término, verifica-se que o Diabo é o corresponsável pela maldade, tendo no homem o respaldo de que precisa para a instalação do mal entre a humanidade.  


Égide Guareschi
O Arlequim, a roupa e suas dobras
 Este trabalho tem como foco a personagem Arlequim e pretende apontar diferentes leituras possíveis, que se abrem a partir da observação dessa figura. Arlequim é irreverente, colorido e arguto, nasce no teatro, mas está também presente na literatura e na pintura. Sua roupa composta por partes, que se dobram e se desdobram em novos pedaços, permite uma leitura diferente a cada nova dobra, em tempos e espaços diversos.

Rafael Soares Duarte
Poesia visual moderna e história em quadrinhos
O objetivo do trabalho é mostrar a proximidade formal entre a poesia visual moderna e as histórias em quadrinhos, Esta se dá através da coexistência entre as possibilidades formais normalmente reconhecidas como excludentes entre prosa e poesia na história em quadrinhos e através da possibilidade da ocorrência de possbilidades formais da poesia visual moderna nas propriedades narrativas dos quadrinhos



Mesa 21. Romance: Perspectivas e desdobramentos
                                               
Cristiano Mello de Oliveira
O romance histórico no Brasil – alguns paradigmas teóricos
O Romance Histórico Contemporâneo desenvolvido no Brasil nas últimas décadas enseja uma série de características que comportam uma conjuntura de olhares e leituras. Muitos teóricos já tentaram realizar análises, construindo novas reflexões e criando patamares epistemológicos sobre tal perspectiva. A problemática maior é que cada teórico sonda abordagens que possuem diferentes exemplificações de romances, assim como o próprio contexto cultural, geográfico e ideológico. O presente trabalho discute, resumidamente, algumas categorias de Romance Histórico escritas no Brasil na década de 1970 e seus principais seguidores nas outras décadas, assim como os pesquisadores que buscaram empreender esse novo surgimento. Igualmente, a investigação faz parte de minha pesquisa de doutorado inserida no Programa de Pós-Graduação em Literatura, orientado pela Professora Dra. Rosana Kamita. Buscaremos através dessa pesquisa, dialogar com tais reflexões, visando deixar algumas contribuições a esse respeito. Como lastro teórico, iremos abordar de maneira reflexiva a glosa de alguns pensadores sobre o Romance Histórico no contexto brasileiro: WEINHARDT (1994), ESTEVES (2010), BASTOS (2007), entre outros necessários para contemplação do tema.   


Pedro Nunes de Castro
A influência do estoicismo na obra de José Saramago: um estudo dos romances Ensaio sobre a cegueira, Ensaio sobre a lucidez e O ano da morte de Ricardo Reis
A presente pesquisa versa sobre a obra de ficção de José Saramago. O livro Ensaio sobre a cegueira está numa relação intertextual com o Ensaio sobre a lucidez. No primeiro, a personagem da mulher do médico ficou imune à cegueira e isso fez com que ela se tornasse suspeita de ter motivado a segunda “epidemia”, a da lucidez. Interpreta-se a cegueira como uma metáfora, na qual o olhar é uma propriedade humana volitiva. Por conseguinte, a lucidez, sua antípoda, também depende de deliberação. O que está em pauta nesses romances é a razão enquanto instrumento, e a sua suscetibilidade. Tema esse, caro também ao estoicismo, que apregoa, entre outras coisas, a primazia da racionalidade, libertando-se das paixões e emoções. Enfatiza-se, de acordo com essa escola, que a paz de espírito será possível mediante uma postura de indiferença perante os fatos, ainda que adversos. Os pensadores da Filosofia do Pórtico elaboraram esses preceitos com vistas a delinear os meios para se chegar a uma vida virtuosa, alcançando a eudaimonía, a felicidade. Há ainda um terceiro título desse mesmo autor, O ano da morte de Ricardo Reis, que pode ser interpretado sob a mesma chave de leitura. Uma das epígrafes é: “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo.” Poema de Fernando Pessoa, no qual é visível o seguimento da filosofia mencionada. Tendo-se, portanto percebido traços estoicos nesses livros do Nobel de literatura, está-se estudando-nos sob esse prisma e verificando, consequentemente, as possibilidades hermenêuticas dessa leitura. 


MARIA SALETE DAROS DE SOUZA
Nomeações do amor: de romântico a líquido, que amores são esses?
A reflexão que aqui apresento deriva de um estudo sobre a temática amorosa, e investiga como o amor se constitui ou se constituiu historicamente, como se apresenta nomeado, como está concebido, conceitualizado e vivenciado, que lugar ocupa na vida e nos corpos dos sujeitos socialmente constituídos, de acordo com alguns estudiosos. Especialmente me ocupo do amor cortês, do amor romântico e do amor líquido, amparada nos pensamentos de Roland Barthes, Octavio Paz, Jurandir Freire Costa e de Zygmunt Bauman. Atende, a presente reflexão, parcialmente à pesquisa de doutorado que desenvolvo, e que tem como objetivo investigar em que medida cabe o amor na ‘literatura do trauma’ de língua portuguesa, buscando compreender a memória histórica e o trauma, inseridos nas vivências amorosas de três romances de autores representativos da língua portuguesa, quais sejam Antonio Lobo Antunes, Mia Couto e Carlos Heitor Cony. Pensarei o objeto de estudo da pesquisa - o amor na literatura do trauma de língua portuguesa - nos romances, a partir da interlocução de três temas: literatura e história, literatura e trauma e literatura e amor. O tema amoroso, posto que recorrente na literatura, interessa, particularmente, pelo que ele possa apresentar de incomum no quadro de vivências traumáticas. Sobre ele recairá o interesse maior da pesquisa no sentido de saber em que medida o amor se manifesta, como se dão as relações de afeto e quais as especificidades da relação amorosa na vivência do trauma; que formas amorosas se apresentam na literatura do trauma, de que maneira elas se constituem e como se conduzem. Decorre deste percurso investigativo mais amplo o presente estudo no qual me proponho a analisar, preliminarmente, situações não traumáticas da vida amorosa, e visualizar conceitual e historicamente o amor pelo que ele tem de nomeações, algumas.



Mesa 22. Escrita e devir

Carolina Dittrich
Arquitetura na linguagem: Mallarmé à Kafka
Em ensaio sobre Mallarmé, Blanchot o designa como realizador de uma experiência poética: o ponto em que coincide a execução da linguagem e seu desaparecimento. Pensar nesse processo seria levar a linguagem para além da doxa, além do olhar que impede de ver a invisibilidade do invisível. Nesse sentido, o trabalho pretende percorrer as edificações construídas por Kafka em 'A construção' e 'O processo' onde, para Deleuze e Guattari, haveriam  grupos arquiteturais que funcionam e se repartem em blocos descontinuos, bem como na própria linguagem que se apresenta como o reacionismo moderno que acabou por reativar algumas formas arcaicas, neoformações que comportam penetrações mútuas das burocracias como ruínas modernas.


Gabriela Cristina Carvalho
Yuxin: a fluidez da alma
No romance de Ana Miranda, a noção do “eu” indígena é representada em harmonia com o mundo que o cerca, por isso a linguagem também se funde com os elementos de seu mundo, ela é aberta e trespassada pelos ruídos e vozes “bordar bordar... hutu, hutu, hutu, hutu... aprendi o bordado kene em dia de lua nova... bordar... bordar... achei aquele couro de cobra atrás do tear, minha avó me levou mata dentro para eu saudar Yube e aprender o bordado kene” (MIRANDA, 2009, p.17). Como se bordasse a voz mítica da índia-narradora alinhavada à voz da natureza, dos animais, da chuva, do vento, dos yuxins, da floresta, de seus ruídos e silêncios, a linguagem é tecida e permeada de sonoridade, como uma canção imersa em um infinito de vida. Se formos relacionar o romance construído por Ana Miranda às práticas do xamanismo, ele assume uma qualidade de ritual enquanto gesto de enunciação, assumindo posturas frequentemente influenciadas pela experiência do “eu” coletivo. Nessa perspectiva, um corpo só existe coletivamente, nunca de maneira isolada, sendo formado pelas pessoas que vivem na mesma aldeia, pelos parentes próximos, criando laços de pertencimento e de falta, se alguém está ausente. A noção cartesiana do “eu” e do “outro” é afastada para construir uma relação com o “todo”. Nessa compreensão, o mundo não seria experimentado como estando separado de nós, mas incorporado, com as fronteiras entre o “eu” e o mundo dissolvidas, superando o dualismo da visão de mundo newtoniana-cartesiana, que é o padrão perceptivo ou modo de visão que domina a consciência ocidental. Neste seminário apresento a primeira versão de minha pesquisa de mestrado, ainda em fase de pré-qualificação.


Raquel Wandelli
Como a máquina
literária inumana pode parar a máquina antropocêntrica?
Pensar o outro inumano é postular um pensamento em crise no qual o homem não é mais a origem e o fim. Essa crise evidencia projetos literários de reinvenção do humano tensionados e interpelados pela presença de outras formas de vida. De modo mais específico, estudamos as relações entre a autoria como o lugar da morte do autor centrado em si mesmo e a instauração do inumano na literatura pela explosão do sujeito antropocêntrico, constituidor do autor e do personagem clássicos. Nessa perspectiva, investiga-se como a experimentação do que Derrida chama de alteridade radical e a pluralização das possibilidades de ser na e pela literatura potencializa a escrita do inumano. Observa-se essa experiência em autores como Clarice Lispector, onde a constituição de uma escrita em devir instaura um autor (autorreflexivo) que morre em cena, fazendo nascer de si e do outro o que não está instituído pelo humano.
Tendo como argumento de tese a relação da arte e da escrita com a potência de um inconsciente maquínico inumano, para fazer derivar o conceito de Deleuze, analisamos a expressão do neutro, do it em G.H., uma artista de sucesso que tem na matéria do neutro ou da massa branca seu principal combustível de crise e criação.  O estudo da relação privilegiada entre a escrita e o inumano leva-nos a postular o desaparecimento do autor como um lugar profícuo para a constituição da escrita do devir. Essa potência do que Foucault chama de “desfazimento de si” provoca a seguinte reflexão: como a máquina literária inumana, enquanto contradisposivo da noção negativa de máquina humanista, conforme Agamben, poderia deter a máquina antropocêntrica?


Ana Carolina Cernicchiaro
Perspectivismo ameríndio e literatura
Este trabalho pretende pensar uma aproximação entre duas máquinas de guerra: a experiência xamânica e a literatura. Assim como o xamanismo é, segundo Eduardo Viveiros de Castro, “uma diplomacia cósmica dedicada à tradução entre pontos de vista ontologicamente heterogêneos”, também a literatura funciona como um espaço de contágio, de abertura, de entrega ao outro. Como xamãs, aqueles que entram no espaço literário - escritores e leitores – se tornam múltiplos, indiscerníveis, apresentam-se em constante devir, transmutando perspectivas, questionando dicotomias. Arte e xamanismo falam de um estado do ser onde o eu e o outro se interpenetram em um mesmo meio pré-subjetivo e pré-objetivo, onde o outro deixa de ser coisa objetivada e se torna singularidade plural, onde a hierarquia entre sujeito e objeto é substituída pela nebulosidade das fronteiras. E é nesta indiscernibilidade, nessa fluidez, que a arte se torna um lugar propício para uma nova ética, uma ética da heterogeneidade, e, portanto, para uma nova ontologia, uma ontologia de devires, de seres-uns-com-os-outros.



Mesa 23. Vozes femininas: literaturas de resistência

Tanay Gonçalves Notargiacomo
Uma trilogia de balanços afetivos
O objetivo de minha pesquisa de Mestrado intitulada "Uma trilogia de balanços afetivos" é mostrar e demonstrar certas vozes que emergem de silenciamentos históricos da produção literária de autoria feminina. Quero dar visibilidade, nesse exercício de leituras inaugurais, teóricas e críticas a três narrativas: "Azul e Dura", de Beatriz Bracher; "Hotel Novo Mundo", de Ivana Arruda Leite e "Nada a Dizer", de Elvira Vigna. Três escritas de si no campo ficcional. As autoras e os romances foram escolhidos por um recorte geracional, pela proximidade de suas publicações e, especialmente, pelas constantes e variáveis temáticas e formas, o que permite pensar em uma perspectiva da crítica feminista nessa trilogia de balanços afetivos de prestação de contas, de  avaliação do saldo (ou déficit) de um feminismo que se projetou como libertador a partir dos anos 1970.


Ana Carolina Andrade P. Cavagnoli
Maryse Condé e as escritoras afro-caribenhas: a crise entre assimilação, ventriloquia, resistência e liberdade
A proposta do presente trabalho é analisar até que ponto a escritora caribenha Maryse Condé atua como ventríloquo da tradição literária dominante, tida aqui como o modelo imperial colonial, ao mesmo tempo que articula em seus textos processos de ruptura para resistir e subverter a cultura e a tradição literária dominantes. Em meio a muitas ambivalências deste posicionamento, veremos que as questões levantadas acerca da identidade diaspórica são fundamentais para descrever os diferentes percursos por onde a escritora se ancorou e as razões pelas quais tais ancoragens se refletem em seus romances. Para o sucesso desta análise, foi preciso recorrer à teorização de Stuart Hall e Boaventura de Sousa Santos sobre identidades em contextos pós-coloniais para observar como os sujeitos afro-descendentes articulam tais questões na literatura. A partir desta análise, discorro sobre a proposta de investigar as escritoras afro-caribenhas/americanas através de uma análise comparativa de suas obras.


Rosa Cristina Hood Gautério
EScrínio: um periódico feminino/feminista no Rio Grande do Sul do século XIX
Na presente pesquisa, trabalho na recuperação da memória literária feminina examinando a formação e o despertar da consciência das mulheres no século XIX, especificamente  a partir do periódico Sul-rio-grandense Escrínio e de sua fundadora Andradina América de Andrada e Oliveira  



Mesa 24. Literatura, ditadura e exílio

Inês Skrepetz
A construção e a “desconstrução” da memória e do corpo nos romances (pós-ditatorial) de Martín Kohan
Em linhas gerais, considerando que a pesquisa ainda se encontra em estado inicial, a proposta deste estudo é problematizar as relações entre literatura, história e memória nas obras de Martín Kohan, tendo como núcleo a questão a seguir: Como são construídos e desconstruídos a memória e o corpo na trilogia de Martín Kohan sobre a Ditadura Argentina? Nessa perspectiva, pretendemos estudar como se apresenta e se desdobra essa problemática nas obras do escritor que, por meio do discurso literário, interrogam o período ditatorial argentino em seus momentos mais acentuados, e que apresentam suas consequências na atualidade. Essas questões são aprofundadas nas narrativas ficcionais que escolhemos como corpus principal desta pesquisa, a saber: Dos veces junio (2002), Ciencias morales (2007) e Cuentas pendientes (2010).
 

Valdir Olivo Júnior
Cinematógrafos: movimentos do exílio em textos de Edgardo Cozarinsky
Ao filmar o exílio desde o exílio, Edgardo Cozarinsky, desenvolve cinema da ruína e da fragmentação. Fragmentação dos filmes, mas também do sujeito. As grafias deste movimento, o cinematógrafo de Cozarinsky, é o interesse deste trabalho. Em seus filmes e textos a “cinematografia” se emaranha à biografia, a vida que se desfaz e refaz nos movimentos do exílio, do despojamento e da despersonificação. Exílio, que é a violência da expropriação (a deportação ou expulsão do lugar de nascimento), elemento presente na vida de Cozarinsky. Mas também, e esta reflexão é a que nos permite sua obra, o exílio como  lugar de asilo. Asilo este que se dá na escrita, ou melhor, revela o exílio da excritura que também é asilo. Estas grafias de movimentos, imagens e palavras são as formas encontradas por Cozarinsky para lidar com a ferida do exílio (o vazio), não no sentido de um exílio que “ocupe o vazio” e tape o buraco, classificando assim o vazio como exílio. Mas sim de um exílio entendido como processo que desagrega o sistema literário ou fílmico, ou melhor, faz ver tanto a literatura quanto o cinema para além de um sistema imutável, desmonta-o e exige pensar as brechas, os cortes abruptos de papeis, películas, mas também da vida, o sem-sentido e sua íntima relação com o sentido.


Regiane Regis Momm
Retratos Do Passado
Esta pesquisa vem fazer uma leitura da produção cultural em dois periódicos que circularam na década de 70, mais especificamente a partir de 1974, Universitário  e O Acadêmico . Um estudo que se justifica como parte da história cultural da imprensa brasileira, uma parte, inclusive, em processo de elaboração: ora tentando compor um contexto diante de posturas e acontecimentos vivenciados nos bastidores da imprensa, no estado de Santa Catarina, mais precisamente em Blumenau; ora mantendo o foco em quem por ali circulava, no que se produzia, ou ainda nas relações entre o que circulava nos periódicos com o que se ensinava nos campos institucionais durante a ditadura militar.


Artur de Vargas Giorgi
Duas saídas para o exílio (com Ferreira Gullar e León Ferrari)
O exílio, digamos desta maneira embaraçosa, acontece com um pé no chão e outro na linguagem. É uma dupla inscrição que o coloca – o exílio, a experiência de exilar-se – simultaneamente em estrita relação com o paradigma exclusivo-inclusivo de uma ordem político-policial de longa duração no Ocidente, assim como em condição de abertura, junto ao espaço atópico e indomesticável que é o da linguagem. Quer dizer: à violência sofrida por indivíduos exilados e perseguidos por regimes autoritários – como é o caso de Ferreira Gullar e de León Ferrari, que autoexilaram-se para escapar das ditaduras militares do Brasil e da Argentina – responde não apenas o consenso que identifica os territórios, as fronteiras, a vida em jogo e seu possível ressentimento do trauma consumado, mas também a potência dos traços que marcam e configuram o exílio como uma experiência singular, sem a priori, instância em que a paisagem “exílica” se retira de si para tornar-se uma construção; construção essa que, tocada pelo alheio, pelo que se oferece irredutivelmente estranho, e exatamente assim, constrói o sujeito.


Conferência de encerramento

Estudos literários e ciências humanas: entre o generalismo e a especificidade
Francisco Foot-Hardman (Universidade Estadual de Campinas)

Trata-se de refletir, no contexto da crise contemporânea de paradigmas nas humanidades e, também, no contexto dos currículos obsoletos da área de letras, sobre quais perspectivas poderiam ser mais interessantes para o avanço dos estudos literários.










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